Relatora: Clarissa Íris Rocha Leite
Sônia inicia a reunião falando sobre o novo curso da UFBA que está sendo proposto pelo departamento de psicologia. Trata-se de uma graduação em atenção psicossocial que pretende envolver reflexões de diversas áreas entre outras a psicologia, serviço social, educação e saúde. Sônia aproveita pra convidar o grupo para a construção do projeto político pedagógico do curso.
Rita informa que o encontro anterior (21.04.08), por ter se tratar de uma discussão teórica não foi feito relato, sendo conversado de que quem relata deveria se sacrificar na participar da discussão, o que não era legal pra dinâmica do grupo. Diante da discussão combinamos não relatar quando a discussão for exclusivamente teórica.
Nossa lista de indicações tem seu primeiro item, trata-se de um livro de etnometodologia feita junto a meninos de rua, onde o autor não dá atenção ao método e no anexo apresenta um capítulo nomeado um brinde a academia, tratando da hermenêutica (não consegui anotar o nome do autor).
Um e-mail é lido para o grupo. Assunto: cabelo negro, história, complexo, desejo de estudo com relação ao interacionismo, ela e seu sujeito. Inquietações.
Mais uma indicação, um artigo:
DUBAR, Claude. Trajetórias sociais e formas identitárias: alguns esclarecimentos conceituais e metodológicos. 1998.
TEMA DO DIA: ETNOMETODOLOGIA
Georgina conduz o tema do encontro, apresentando duas possibilidades de discussão, a sua tese ou um passeio mais geral sobre o tema. O grupo embarca no passeio, avalia importante o espaço para falar sobre o que estamos construindo nesses encontros, sobre o desafio de construir uma teoria, até então nomeada de etnopsicologia.
Sônia expõe para duas colegas convidadas o funcionamento do grupo e nossos audaciosos objetivos.
Método ou teoria?
Gina inicia apresentando algumas idéias de Garfinkel, entre elas, o social é descrito como algo que todo mundo faz. O termo etnometodologia, para o autor, parece não ter sido uma boa opção para descrever o fenômeno, pois não se trataria de um método de pesquisa, mas um método das pessoas. Gina usa o exemplo da fila no Brasil, a concepção diferente por exemplo do francês, aqui, as pessoas circulam e retornam para tomar “seu” lugar, que poderia ter deixado de ser seu pelo abandono. O brasileiro tem uma experiência de fila singular. Recordei também da utilização de objetos para guardar lugar na fila, havendo até filas de pedra. Isso que constitui nosso social pode ser falado, são coisas ordinárias .
Sônia aponta que esse jeito de fazer pesquisa se opõe a um concepção sociológica de classe social, nível de instrução, pertencimento. Compreedendo assim que cada indivíduo pode e tem possibilidades de ação no mundo, revelando na pesquisa uma maneira particular e interpretativa.
Concebe-se a etnometodologia não enquanto um método, mas como uma forma de compreensão social, na perspectiva do ponto de vista das pessoas (etno). Gina relembra o histórico de Garfinkel, que é filho da sociologia americana, da Escola de Chicago, viveu num momento histórico importante onde pode se aproveitar da guerra e se libertar de proposições políticas da época. Realizando estudos importantes, discutindo questões a margem, entre outros situa-se Júri, uma discussão sobre transsexualidade, revelando que ser mulher é uma construção social, fazendo uma política voltada não para os trans, mas uma discussão ampliada para toda a sociedade. Alguém relembra que na etnometodologia não tem hipótese, mas apenas o desejo de saber, o que faz... traz... para fazer a pesquisa. Não se fecha o tema antes da investigação.
Indica-se trabalho feito por cartas do lixo para entender como se deu essa vida do polonês: THOMAS, W. I. ZNAAJECKI, F. The Polish peasent em Europe and America, Chicago, university. 1927.
A dissertação de Ana Flávia também é lembrada, com ênfase no capítulo sobre interacionismo simbólico que faz uma reflexão sobre psicologia e sociologia e da relação entre interacionismo e etnometodologia (disponível em... http://www.pospsi.ufba.br/pdf/anaflavia.pdf): SANTANA, Ana Flávia. Tendo a rua como casa: Ensaio etnopsicológico com crianças.
Patrícia indica Jerome BRUNER, na possibilidade de articulação teórica com a proposta da etnometodologia, por considerar que este elege a fala como tão importante quanto o comportamento. Não desconsiderando a cultura.
Gina relembra Alfred SCHUTZ, que discute o que é natural e o senso comum, tratando da fenomenologia social, segundo ela “A etnometodologia deve muito à obra de Schütz, definindo as tipificações e categorizações que ele propõe, em termos de raciocínio sociológico prático ou de senso comum”.
Gina nos apresenta algumas noções fundamentais (indico os slides para melhor recordar):
INDEXICALIDADE
Todas as determinações que ligam uma palavra a uma situação (AQUI; ALI; EU; VOCÊ) Toda palavra é trans-situacional, ou seja tem um significado distinto relacionado a situação particular em que é usada.
REFLEXIVIDADEReflexividade não é reflexão. São as práticas que designam a equivalência entre o que é descrito e ao mesmo tempo produzido. Meu olhar sobre as coisas os organiza, os constitui por um corte produtor de uma ordem que ao mesmo tempo se impõe a mim como exprime.
ACCONTABILITYO mundo se realiza em nossos atos práticos; Dizer que o mundo é accountable, significa dizer que ele é disponível, descritível e inteligível, relatável e analisável e que estas características se apresentam ao mundo nas ações práticas realizadas pelos atores. O mundo não é dado, ele se realiza em nossos atos práticos
NOÇÃO DE MEMBROO termo não é usado em referência a uma pessoa em particular. Produção local e o carater favorável e disponível da ordem social. Domínio da linguagem comum. Tornar-se membro é filiar-se a um grupo, conhecer suas regras, o comportamento implícito seu modo de agir incorporando seus etnométodos
Gina nos apresenta um conceito de REGRA, e chegamos numa grande questão: se cumprimos a regra a sociedade não funciona. Uma questão relevante é que a regra deveria ajudar as coisas funcionarem. Nós interpretamos a regra, desconstruimos e reconstruímos. Se formos cumprir a regrar vem o caos. Vários exemplos foram lembrados, entre eles a operação tartaruga, a vistoria dos aeroportos. Porém o exemplo que mais me chamou a atenção foi da experiência de uma colega, que nos contou que ao trabalhar numa instituição as regras inutilizavam a atuação do educador, na medida em que as coisas funcionavam, a rotina estabelecida fixa, não permitia que o educador faça contacto as tensões dos alunos, o ato educativo não se concretiza. Um outro exemplo foi de uma greve de silencio dos alunos que causou grande problema na escola. As idéias então nos levam a compreender que o cumprimento rígido das regras pode “amordaçar” o diálogo. Nossa convidada da área da informática explica que as regras nesse campo são fundamentais para solucionar problemas. Sônia indica um artigo sobre como desmontar o discurso do operador de telemarket, indicando que é fundamental o ponto de vista do cliente.
Discutimos também sobre o diário de campo. Mais uma valiosa indicação para esse tema: RENÈ BARRIÈ, no texto pesquisa ação existencial. O tempo do encontro chegou ao fim, estava quente a conversa, mas fechamos.
Sônia relembra da necessidade de organizar os encaminhamentos do grupo.
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