terça-feira, 6 de maio de 2008

Reunião do grupo de pesquisa_05.05.08

Participou da reunião: Sônia, Rita, Ava, Vitor, Carla, Clarissa, Damonille e Ana Margareth

Sônia começou a reunião justificando a ausência de Gina (que durante esse mês não estará presente nas reuniões), de Ana Urpia e de Matheus. Afirmou a importância de ser mantido um compromisso com o grupo e pediu que as faltas e atrasos fossem evitados e caso ocorressem, justificados.

Inicialmente, a proposta para a reunião era dar continuidade à discussão sobre construcionismo social. Porém, como havia poucas pessoas presentes no início da reunião, Sônia sugeriu uma “operação tapa-buraco”: pediu ao grupo que fizesse uma exposição sobre o processo de orientação em pesquisa, sobre os objetivos de um grupo de pesquisa e sobre o campo do saber em que estamos inseridos (ou que não estamos inseridos).

Orientação em pesquisa ou como evitar as “desorientações”


Carla relatou sua experiência, ainda na graduação, e de suas 3 orientações durante a elaboração da sua monografia. Seu 1º orientador precisou ser “descartado”, pois, segundo Carla, ela não conseguia encontrar nele alguém que compartilhasse do seu ponto de vista. Partiu, então, em busca de um 2º orientador. Quando Carla parecia “acertar os ponteiros”, este orientador foi desligado do programa. Carla seguiu em direção ao seu 3º orientador e naquele momento não havia mais chance, nem tempo, para um 4º. A partir desta experiência, Carla formulou algumas questões sobre o papel do orientador:
- o orientador deve dialogar com o trabalho do estudante a todo o momento?
- o estudante deve produzir e depois mostrar o seu trabalho para o orientador?
- será que tem orientador que só “enrola” o estudante?
- quanto vale um orientando para um orientador? (Carla, que veio de uma universidade particular, afirmou que nessas instituições os professores costumam ser remunerados por suas orientações).

Parêntesis


Sônia aproveitou a última questão levantada por Carla e citou a matéria exibida pelo Fantástico, no dia anterior, sobre as provas de vestibular aplicadas pelas instituições particulares de ensino superior. De acordo com Sônia, a matéria mostrou estudantes do ensino fundamental realizando uma avaliação que permitiria o ingresso em uma dessas instituições. As perguntas da prova eram óbvias e quase todas as crianças que foram submetidas à avaliação foram aprovadas. Para Sônia, um grande número de jovens de origem popular opta por essas instituições de ensino por não conhecerem o sistema de cotas da UFBA. Como as universidades públicas não fazem divulgação na mídia, elas acabam “perdendo” muitos desses estudantes para as faculdades particulares. Carla aproveitou para relatar o caso de uma garota de Cachoeira, filha de uma empregada doméstica, que ao dizer que estava pensando em entrar na Universidade Federal do Recôncavo foi imediatamente coibida pela mãe. Carla disse que a mãe afirmava para a filha que a universidade não era pra ela. Esse episódio revela o preconceito da própria família e a falta de conhecimento das políticas de ações afirmativas.

Voltando à orientação


Eu (Ava) falei da minha experiência de orientação com Sônia e afirmei que até então a minha orientação tem seguido como eu esperava: o orientador tem sido responsável por dar dicas, por guiar e direcionar o projeto, mas o primeiro passo deve ser sempre do orientando. Para mim, o orientando precisa assumir responsabilidades, cumprir suas obrigações com as disciplinas, realizar suas tarefas, buscar referências para o projeto e sempre que uma dúvida surgir, dividi-la com o orientador. O orientador precisa acompanhar as produções do seu orientando, mas esse acompanhamento deve ser solicitado pelo próprio estudante, mesmo porque o orientador não tem como saber quais são os momentos em que surgem dúvidas e possíveis dificuldades.

Os tipos de orientadores


Para Clarissa, existem estudantes que se interessam por pesquisa, mas esse interesse não é tão homogêneo entre os estudantes de graduação. Ela sempre participou de pesquisa e relatou algumas experiências com seus orientadores. Segundo Clarissa, ela já teve orientador mais relaxado, que não se preocupava com a formação dos estudantes. Teve também orientador que queria redigir todo o trabalho e não dava espaço para os orientandos. Teve uma orientadora que a acordava, bem ao estilo “diabo veste Prada” (que para Vitor poderia ser traduzido como “o diabo faz pesquisa”).

Rita aproveitou para citar um artigo que ela leu ainda na graduação, no qual o autor concluía que alguns orientadores imprimem tanto o seu perfil nos trabalhos dos seus orientandos, que os trabalhos terminam ficando todos com “a cara” do orientador e não há espaço para uma exposição mais pessoal do estudante.

Resumindo...


Vitor definiu o papel do orientador em:
- diálogo;
- compromisso;
- liberdade;
- apresentação de horizontes/direcionalidade de ações e
- anti-tarefista.

Sônia disse que a orientação é sempre uma relação terapêutica e que é preciso que o orientador conheça um pouco da vida do seu orientando, até mesmo para desenhar o estilo daquele sujeito e a forma como ele trabalha. Disse também que o mais importante nesse tipo de relação é o respeito.

Qual é mesmo o papel desse grupo de pesquisa?


Sônia define o grupo de pesquisa com um espaço a favor da diversidade e no qual deve ser formado uma rede de solidariedade. Ele é diversificado porque além de contar com os orientandos e ex-orientandos de Sônia, cada um com seus interesses particulares, ainda há a presença de doutores (neste momento não tão presentes, porque, segundo Sônia, estão todos ocupadíssimos) e de estudantes escolhidos por Sônia pela possibilidade de contribuição que podem oferecer. O grupo deve ser solidário porque, para Sônia, este é um ambiente no qual podemos compartilhar projetos, idéias, dúvidas... Os integrantes do grupo devem orientar e ser orientados pelo colega. O grupo de pesquisa é um ambiente que reúne interesses pessoais e coletivos.

Parêntesis


Sônia explica a diferença entre aluno e estudante. Aluno significa “sem luz”, é aquele sujeito que precisa de um professor para guiá-lo (embora Sônia não concorde com essa terminologia). O estudante, por sua vez, é aquele com maior autonomia. Na França, alunos são crianças e adolescentes que ainda freqüentam a escola, e estudante é o jovem universitário.

Sônia também faz a diferença entre autor e ator. Ela trouxe como exemplo um ator de teatro. Quando este ator é bom e representa bem, ele termina se apropriando do personagem e naquele momento é também autor, pois sua autoria diante do projeto se torna visível, ele não será apenas um sujeito que representa. Sônia citou Jacques Ardoino e o processo definido por ele como negatricidade: negar o que vem antes para fazer uma elaboração própria. Este processo possibilita uma autorização do sujeito diante de um determinado fenômeno. Para Sônia, o estudante deve caminhar sempre em busca dessa autonomia.

E pra terminar...


Sônia disse que o que ela espera do grupo de pesquisa é que este seja mais um espaço de aprendizagem e que, com a chegada dos seus alunos do Projeto Permanecer, os atuais integrantes do grupo estejam preparados para dar orientações, mesmo porque ela não terá tempo de orientar todos esses seis estudantes de graduação. Sônia também falou das pessoas que tem escolhido para fazer parte do grupo e que ela confirma a idéia de Kabengele Munanga: “Ninguém trabalha com inimigo”. Logo, seus orientandos e os componentes do GP são todos escolhidos a partir de interesses e afinidades!

Rita termina a reunião dizendo que o grupo precisa assumir um caráter cada vez mais anárquico, e que as reuniões não precisam ser tão organizadas e arrumadas. Sônia defende que não há trabalho sem improviso e que o formato desse grupo é não ter formato.

Sônia disse ainda que o GP em breve terá uma sala (assim que o prédio ao lado do mestrado ficar pronto) e que com esse espaço o grupo deve se tornar mais independente e ter vida além da reunião.


Próxima reunião


Continua a discussão sobre construcionismo e inicia-se outra sobre campos do saber (em que campo nós estamos, ou ao menos já sabemos em que campo não estamos?).

Obs.: Sônia avisou que não estará presente na reunião do dia 02 de junho!

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Reunião do Grupo de Pesquisa - 28.04.08

Reunião do Grupo de Pesquisa - 28.04.08
Relatora: Clarissa Íris Rocha Leite


Sônia inicia a reunião falando sobre o novo curso da UFBA que está sendo proposto pelo departamento de psicologia. Trata-se de uma graduação em atenção psicossocial que pretende envolver reflexões de diversas áreas entre outras a psicologia, serviço social, educação e saúde. Sônia aproveita pra convidar o grupo para a construção do projeto político pedagógico do curso.

Rita informa que o encontro anterior (21.04.08), por ter se tratar de uma discussão teórica não foi feito relato, sendo conversado de que quem relata deveria se sacrificar na participar da discussão, o que não era legal pra dinâmica do grupo. Diante da discussão combinamos não relatar quando a discussão for exclusivamente teórica.

Nossa lista de indicações tem seu primeiro item, trata-se de um livro de etnometodologia feita junto a meninos de rua, onde o autor não dá atenção ao método e no anexo apresenta um capítulo nomeado um brinde a academia, tratando da hermenêutica (não consegui anotar o nome do autor).

Um e-mail é lido para o grupo. Assunto: cabelo negro, história, complexo, desejo de estudo com relação ao interacionismo, ela e seu sujeito. Inquietações.

Mais uma indicação, um artigo:
DUBAR, Claude. Trajetórias sociais e formas identitárias: alguns esclarecimentos conceituais e metodológicos. 1998.


TEMA DO DIA: ETNOMETODOLOGIA

Georgina conduz o tema do encontro, apresentando duas possibilidades de discussão, a sua tese ou um passeio mais geral sobre o tema. O grupo embarca no passeio, avalia importante o espaço para falar sobre o que estamos construindo nesses encontros, sobre o desafio de construir uma teoria, até então nomeada de etnopsicologia.

Sônia expõe para duas colegas convidadas o funcionamento do grupo e nossos audaciosos objetivos.

Método ou teoria?

Gina inicia apresentando algumas idéias de Garfinkel, entre elas, o social é descrito como algo que todo mundo faz. O termo etnometodologia, para o autor, parece não ter sido uma boa opção para descrever o fenômeno, pois não se trataria de um método de pesquisa, mas um método das pessoas. Gina usa o exemplo da fila no Brasil, a concepção diferente por exemplo do francês, aqui, as pessoas circulam e retornam para tomar “seu” lugar, que poderia ter deixado de ser seu pelo abandono. O brasileiro tem uma experiência de fila singular. Recordei também da utilização de objetos para guardar lugar na fila, havendo até filas de pedra. Isso que constitui nosso social pode ser falado, são coisas ordinárias .
Sônia aponta que esse jeito de fazer pesquisa se opõe a um concepção sociológica de classe social, nível de instrução, pertencimento. Compreedendo assim que cada indivíduo pode e tem possibilidades de ação no mundo, revelando na pesquisa uma maneira particular e interpretativa.

Concebe-se a etnometodologia não enquanto um método, mas como uma forma de compreensão social, na perspectiva do ponto de vista das pessoas (etno). Gina relembra o histórico de Garfinkel, que é filho da sociologia americana, da Escola de Chicago, viveu num momento histórico importante onde pode se aproveitar da guerra e se libertar de proposições políticas da época. Realizando estudos importantes, discutindo questões a margem, entre outros situa-se Júri, uma discussão sobre transsexualidade, revelando que ser mulher é uma construção social, fazendo uma política voltada não para os trans, mas uma discussão ampliada para toda a sociedade. Alguém relembra que na etnometodologia não tem hipótese, mas apenas o desejo de saber, o que faz... traz... para fazer a pesquisa. Não se fecha o tema antes da investigação.
Indica-se trabalho feito por cartas do lixo para entender como se deu essa vida do polonês: THOMAS, W. I. ZNAAJECKI, F. The Polish peasent em Europe and America, Chicago, university. 1927.
A dissertação de Ana Flávia também é lembrada, com ênfase no capítulo sobre interacionismo simbólico que faz uma reflexão sobre psicologia e sociologia e da relação entre interacionismo e etnometodologia (disponível em... http://www.pospsi.ufba.br/pdf/anaflavia.pdf): SANTANA, Ana Flávia. Tendo a rua como casa: Ensaio etnopsicológico com crianças.

Patrícia indica Jerome BRUNER, na possibilidade de articulação teórica com a proposta da etnometodologia, por considerar que este elege a fala como tão importante quanto o comportamento. Não desconsiderando a cultura.
Gina relembra Alfred SCHUTZ, que discute o que é natural e o senso comum, tratando da fenomenologia social, segundo ela “A etnometodologia deve muito à obra de Schütz, definindo as tipificações e categorizações que ele propõe, em termos de raciocínio sociológico prático ou de senso comum”.

Gina nos apresenta algumas noções fundamentais (indico os slides para melhor recordar):

INDEXICALIDADE
Todas as determinações que ligam uma palavra a uma situação (AQUI; ALI; EU; VOCÊ) Toda palavra é trans-situacional, ou seja tem um significado distinto relacionado a situação particular em que é usada.

REFLEXIVIDADE
Reflexividade não é reflexão. São as práticas que designam a equivalência entre o que é descrito e ao mesmo tempo produzido. Meu olhar sobre as coisas os organiza, os constitui por um corte produtor de uma ordem que ao mesmo tempo se impõe a mim como exprime.


ACCONTABILITY
O mundo se realiza em nossos atos práticos; Dizer que o mundo é accountable, significa dizer que ele é disponível, descritível e inteligível, relatável e analisável e que estas características se apresentam ao mundo nas ações práticas realizadas pelos atores. O mundo não é dado, ele se realiza em nossos atos práticos


NOÇÃO DE MEMBRO
O termo não é usado em referência a uma pessoa em particular. Produção local e o carater favorável e disponível da ordem social. Domínio da linguagem comum. Tornar-se membro é filiar-se a um grupo, conhecer suas regras, o comportamento implícito seu modo de agir incorporando seus etnométodos


Gina nos apresenta um conceito de REGRA, e chegamos numa grande questão: se cumprimos a regra a sociedade não funciona. Uma questão relevante é que a regra deveria ajudar as coisas funcionarem. Nós interpretamos a regra, desconstruimos e reconstruímos. Se formos cumprir a regrar vem o caos. Vários exemplos foram lembrados, entre eles a operação tartaruga, a vistoria dos aeroportos. Porém o exemplo que mais me chamou a atenção foi da experiência de uma colega, que nos contou que ao trabalhar numa instituição as regras inutilizavam a atuação do educador, na medida em que as coisas funcionavam, a rotina estabelecida fixa, não permitia que o educador faça contacto as tensões dos alunos, o ato educativo não se concretiza. Um outro exemplo foi de uma greve de silencio dos alunos que causou grande problema na escola. As idéias então nos levam a compreender que o cumprimento rígido das regras pode “amordaçar” o diálogo. Nossa convidada da área da informática explica que as regras nesse campo são fundamentais para solucionar problemas. Sônia indica um artigo sobre como desmontar o discurso do operador de telemarket, indicando que é fundamental o ponto de vista do cliente.

Discutimos também sobre o diário de campo. Mais uma valiosa indicação para esse tema: RENÈ BARRIÈ, no texto pesquisa ação existencial. O tempo do encontro chegou ao fim, estava quente a conversa, mas fechamos.

Sônia relembra da necessidade de organizar os encaminhamentos do grupo.