domingo, 13 de abril de 2008

Reunião do Grupo de Pesquisa: Aproximações a perspectiva etno em psicologia do desenvolvimento
Data: 07.04.08
Presentes: Sônia, Molije, Damonille, Carla, Ana Urpia, Maíra, Rita, Gina, Ava e Matheus.

PREÂMBULO

Sônia inicia a reunião apresentando Molije e expondo para ela o funcionamento do grupo. Molije aproveita o espaço para falar da passagem de Mary Jane Spink por Salvador na quinta-feira passada para a defesa da tese de Guga, denominada “Desejo a flor da tela”. Uma etnografia feita toda pela internet e que apresenta o ponto de vista de pessoas que defendem o sexo sem preservativos, trazendo à tona a relação risco x prazer. Aproveita ainda para convidar o grupo para assistir uma breve apresentação que Guga fará da tese para uma das turmas dela, na quarta-feira 09.04, às 13:30.

Molije também fala sobre o edital do CNPq para recém doutores, incentivando a realização de trabalhos de mais ou menos três anos, com bolsistas de iniciação científica e mestrandos. Fala que pretende submeter um projeto que investigue como ocorre a formação dos residentes nas residências multiprofissionais em saúde mental, considerando o contexto da reforma psiquiátrica e a humanização do SUS.

Sônia intervém discutindo a necessidade de ajustar a linha de educação e saúde para abrigar temas como o de Molije.

Sônia diz ter começado a receber os resumos do CIPA e pede que os interessados se antecipem. Solicita que os resumos sejam enviados até segunda-feira (14.04). Fala um pouco sobre as formas de apresentação, especialmente para os artigos mais teóricos, e sobre a mesa com Alain Coulon.

Sônia comenta que está com dois cursos em andamento, o de Serviço Social e o de Atenção Psicossocial. Fala também da demanda do Reuni para Psicologia, como o aumento das vagas em 20% e a proposta de conteúdos curriculares para o BI de Humanidades.

Rita atenta para o edital da UFRB, que está com inscrições abertas para professores até dia 30.04. Os interessados devem acessar www.ufrb.edu.br.

Sônia recomenda que todos leiam o edital, mesmo que não pretendam se candidatar, ressaltando a importância de se ter todas as participações em cursos, congressos e outros eventos documentados, bem como o domínio na preparação de currículo e memorial. Comprometeu-se a enviar exemplos de memorial para o grupo.

Sobre a submissão de projeto para o PIBIC, Matheus diz a Sônia que a intenção é unir os trabalhos de Ava, Ana Urpia e o dele para formar um projeto “guarda-chuva” e posteriormente definir melhor cada uma das propostas.

Sônia pede que também não deixe a submissão no PIBIC para última hora e propõe a Matheus que já comece a produzir e envie para ela ler.
Sônia indicou e disponibilizou na pasta do grupo um texto, trazido por Rita, intitulado “O que é ser universitário”, do livro “Manual de sobrevivência universitária”.

ETNOMETODOLOGIA – MÉTODO OU TEORIA?... E OUTRAS IMPLICAÇÕES

Seguindo o combinado na reunião passada de que as pessoas trariam os temas dos trabalhos para aliar a teoria à experiência dos mestrandos e doutorandos do grupo, Ava inicia a discussão questionando a possibilidade dela utilizar a etnometodologia como referencial teórico e abandonar o interacionismo simbólico.

Sônia ratifica para o grupo a proposta de produzir algum material sobre etnometodologia

Gina pontua que a etnometodologia é um jeito de se ver a realidade e lembra um texto de Garfinkel, no qual ele próprio critica a escolha do termo etnometodologia para designar a teoria, uma vez que o objetivo era identificar algo que se referisse mais a prática, algo como “etnopraxiologia”. Ainda tratando da questão de Ava, Gina diz que adotando a etnometodologia seria como se ela refizesse O métier do estudante, livro de Alain Coulon.

Ava comenta a definição do seu objeto de pesquisa, observando que, de alguma forma, sempre existiu a inserção na universidade de estudantes com o mesmo perfil do grupo que ela pretende estudar, mas que o foco do trabalho está justamente em que tipo de mudanças pode ter ocorrido, partindo da perspectiva do contexto das Ações Afirmativas.

Gina propõe pensar etnometodologia ao contrário, ou seja, como o método das pessoas, pois é sobre isso que incide seu interesse. Ressalta que a proposta deste tipo de trabalho é o pesquisador não apenas apresentar os resultados, mas também explicitar como fez para chegar a eles, destacando o quanto essa demanda é complexa para a dita “ciência dura”. Lembra que, durante a elaboração da sua tese, Coulon disse que apenas ela poderia transcrever as fitas, pois isso era um exercício para tentar se colocar na posição do outro e, a partir dali, buscar a compreensão dos fenômenos. Faz também um contraponto com a etnografia, uma vez que nesta é o pesquisador que olha e descreve o fenômeno.

Rita intervém explicitando que a etnometodologia se volta para como as pessoas realizam as atividades, para o modo que cada uma delas emprega nesta execução e relaciona ao interacionismo simbólico, uma vez que as regras e as normas não são simplesmente seguidas pelas pessoas; estas fazem suas próprias interpretações e, assim, guiam sua atuação.

Rita continua, especificando que a etnografia difere da etnometodologia, pois representa uma narrativa dos processos. Não há uma preocupação com o como as pessoas fazem as coisas, mas sim em descrever a “paisagem”, o contexto. Fala da sua dissertação de mestrado, na qual realizou uma etnografia e da sua postura de, após ter feito a leitura dos dados, levar o resultado para compartilhar com as pessoas que faziam parte do local onde desenvolveu sua pesquisa, no intuito de verificar a fidedignidade da sua interpretação.

Sônia intervém para esclarecer que o procedimento adotado por Rita é o que se denomina reflexividade, destacando a importância política contida na adoção deste tipo de postura.

Gina pontua que esta forma de compreender a reflexividade difere daquela que se delineia pelo seu caráter reflexivo, fazendo uma analogia com uma imagem no espelho.

Sônia lembra que Coulon, na palestra, diz que o mundo é uma máquina que se comenta e remete a um texto de Gina, no livro Psicologia e educação: tecendo caminhos, intitulado “Etnometodologia ou o comentário do mundo”, comprometendo-se a deixar uma cópia na pasta.
Sônia observa que não se pode ser subserviente a uma teoria e ressalta a necessidade de ser capaz de fazer a crítica, mesmo que seja da sua própria opção teórica. Atenta para a multirreferencialidade como recurso no enfrentamento destas questões e possibilidade de compreensão dos fenômenos.

Gina argumenta que, para algumas pessoas, não existe esse lugar de interlocução. Comenta sobre sua banca de doutorado, relatando a crítica feita por René Barbier ao trabalho por não ser político, apesar dele ter se identificando com o que foi apresentado.

Ana Urpia questiona se o uso da etnometodologia é apolítico ou não político e se, quando se utiliza dela, o pesquisador não faz uma crítica ou não chega a nenhuma conclusão.

· Gina esclarece que quando se utiliza da etnometodologia, o pesquisador está tomando a posição do ator e quando faz isso, ele próprio enquanto pesquisador, não toma posição. Fala da crítica de Bourdieu de que o trabalho resultante da etnometodologia é o relatório dos relatórios.

· Ana Urpia questiona esta crítica, argumentando que quando o sujeito fala, esta fala é em direção ao mundo e, conseqüentemente, é um modo de se posicionar.

· Sônia intervém, argumentando que existe uma questão de metaciência, pois, mesmo afirmando que o pesquisador está se colocando no lugar do outro, nessa relação sempre existirá uma interpretação, uma vez que somos seres de linguagem. Apresenta, então, para o grupo a questão da relação indivíduo-sociedade, afirmando que a vivência de cada um tem um conteúdo que é social, de modo que a constituição desta díade deve ser questionada e critica o lugar que a Psicologia passou a ocupar ao aceitá-la, pois esta última passa a ser feita descolada do contexto.

· Damonille refaz a pergunta de Ava sobre a possibilidade de utilizar a etnometodologia sem recorrer ao interacionismo simbólico, indicando que compreende o uso destas perspectivas teóricas de modo complementar.

· Rita diz que quando se usa a etnometodologia inevitavelmente se usa o interacionismo simbólico, pois eles estão colados.

Sônia indica a Ava a leitura da dissertação de Ana Flávia.

Matheus fala do questionamento que as bancas fazem a trabalhos desta natureza sobre qual fenômeno psicológico está sendo estudado. Exemplifica com a banca da dissertação de Ana Flávia.

Gina pontua que existe nisso uma discussão sobre margem, afirmando que da mesma forma que se sofre esse tipo de crítica pelo lado da Psicologia, também se sofre pelo lado da Sociologia, que vai questionar esse tipo de sociologia que não agrega elementos comuns à área como, por exemplo, o uso de estatística ou uma análise macrossocial.

Rita comenta que estamos caminhando para uma visão mais abrangente dos fenômenos e a unificação das Ciências Humanas.

Maíra pergunta a Sônia se ela é a pessoa que recebe os “marginais” do programa, aqueles cujos objetos se encontram nesta fronteira entre as disciplinas.

Sônia diz acreditar que existem lugares de abertura no programa, mas que, particularmente, sente-se como a pessoa que mais radicaliza essa questão, de modo que acaba recebendo estudantes dentro de certo perfil.

PRÓXIMAS REUNIÕES

Foi proposto que a discussão continuasse nas próximas reuniões.

Clarissa e Damonille ficaram responsáveis por iniciar a discussão do dia 14.04, tendo como base os textos “Construcionismo social: uma crítica epistemológica” e “Construtivismo ou construcionismo? Contribuições deste debate para a psicologia social”.

Dia 21.04 não haverá reunião, pois é feriado, e na segunda subseqüente Gina fará uma apresentação de sua tese.

Um comentário:

Clarissa Íris Rocha Leite disse...

Olá Damonile,
Se puder acrescenta minha presença aí na ata, vc esqueceu.
Beijinho,
Clarissa