Registro da reunião de 24/03/2008, do grupo de pesquisa: Aproximações
Estavam presentes nessa reunião: Sônia, Matheus, Ana Urpia, Ava, Ana Margarete, Victor, Rita e Carla. Sônia começou a reunião referindo-se à tarefa que lhe coube na semana passada: comunicar-se com Odilza, pedindo que ela enviasse o seu artigo. Apesar de ter enviado um email para Odilza, não obteve resposta. A idéia é que o grupo possa ler o artigo e fazer uma análise crítica, tentando entender por quais motivos ele não foi aceito pela revista de psicologia a que foi submetido.
Depois disso, Sônia compartilhou com o grupo uma série de livros que julga importantes para nossas discussões, dentre eles, destacou, especialmente, o de João Batista, sobre Análise Institucional e Construcionismo Social. Além deste, trouxe também o livro de Geertz: Nova Luz sobre a Antropologia, destacando o capítulo sobre diversidade, o livro Comunidade, de Bauman, e o Manual de Análise do Discurso em Ciências Sociais, de Lupicinio Iñiguez .
Após este momento, apresentou ao grupo sua aluna da disciplina Infância e Realidade Brasileira, Carla, cujo projeto de pesquisa relaciona-se com a prática de alisamento de cabelos entre mulheres de gerações diferentes. Carla estava interessada em saber sobre etnografia e, a convite de Sônia, foi visitar o grupo. Sônia enfatizou que Carla era da área da História, e que era muito bem-vinda em nosso grupo, já que este está aberto a diferentes disciplinas que possam dialogar com a psicologia.
Sônia passa a palavra ao grupo, para que este inicie a discussão em torno do texto proposto para esta segunda-feira. Quem começa a falar é Ana Margarete, ressaltando que Spink não é relativista, mas sim construcionista. Destaca ainda a diferença que a autora faz sobre senso-comum e ciência, e cita Gaston Bachelard, referindo-se às múltiplas formas de perceber os fenômenos e o papel da linguagem nesse processo.
Sônia retoma a palavra, e assinala que essa linha divisória entre ciência e senso-comum tem pontos positivos e negativos. Um dos pontos negativos citados por Sônia refere-se à desqualificação do senso-comum como conhecimento. Segundo ela, os saberes situados nesse campo (do senso-comum) tem ficado, muitas vezes, à margem da academia e de suas pesquisas científicas.
Ana Margarete fala que a discussão sobre ciência como detentora da verdade tem sido bastante questionada, e que a Filosofia Analítica tem tido um importante papel nesse processo. Ela cita Rorty e comenta sobre a idéia de uma verdade situada, uma verdade que faz sentido dentro de um determinado campo epistemológico, que lhe confere uma coerência interna. Refere-se ainda à necessidade se fazer uma epistemologia da ciência, de modo que seja possível compreender de que ‘lugar’ estamos falando e construindo ciência.
Sônia levanta a possibilidade de se pensar a partir do multirreferencialismo, ou seja, da idéia de múltiplas referências. A questão, segundo Sônia, é como fazer isso, pois o diálogo entre referenciais diferentes é possível, ainda que possa configura-se desafiador e até questionável a partir de algumas perspectivas.
Matheus argumenta que a questão do método na psicologia debate-se entre a possibilidade de acesso ao conhecimento sobre o sujeito e a discussão política.
Sônia refere-se à idéia de bricolagem para falar da construção do método, como um processo que envolve invenção.
Ana Maria faz uma pergunta ao grupo: Qual seria a diferença da entrevista narrativa dentro de uma pesquisa narrativa e uma entrevista narrativa dentro de uma abordagem etnográfica? O que caracteriza essa entrevista no âmbito da etnografia? Seria, justamente, sua ênfase e relação com o contexto?
Matheus propõe uma outra pergunta: Que diferenças poderia se estabelecer entre a explicação e a compreensão nas abordagens metodológicas do campo da psicologia?
Ana Maria responde que, no que se refere à pesquisa etnográfica, o propósito seria o da compreensão e não da explicação. Sônia traz, então, a idéia de entrevista compreensiva que, segundo ela, é muito semelhante à idéia de entrevista narrativa, tal como proposta por alguns autores. Enfatiza que esse processo de construção metodológica funciona como uma bricolagem, e que, muitas vezes, dão-se nomes diferentes a coisas muito semelhantes em diversos campos de construção do conhecimento e abordagens metodológicas.
Sônia também enfatiza a importância do diário de campo na pesquisa etnográfica e diz que, a priori, ela não acredita que seja possível falar em pesquisa etnográfica com dados coletados apenas via entrevista. Ressalta ainda, que o problema é que, muitas vezes, a ciência, com o pretexto da objetividade, acaba enxugando o texto acadêmico de tudo o que é humano. E cita, finalmente, a frase de Wittgenstein quando sugere substituir a explicação pela descrição. Quando descrevemos a realidade, como procura fazer a etnografia, nos colocamos mais perto daquilo que desejamos conhecer, comenta Sônia, referindo-se ao autor.
Segundo Ana Margarete, é nesse sentido que podemos pensar no construcionismo como forma de superação do dualismo dentro da ciência. E com construcionismo não se deve entender a ‘lógica do tudo vale’, como pontua Spink.
Sônia lembra de um livro chamado O olhar do observador, onde o autor ou autora traz a seguinte idéia: a objetividade é a ilusão de que alguma coisa pode ser observada sem o olhar do observador. Relembra também as contribuições de Laplantine no que se refere ao relativismo, quando escreve sobre a história da antropologia e, portanto, das culturas, do diferente. Para essa autora, quando os antropólogos ‘não tinham mais o mundo novo para ser estudado’, resolveram estudar a diferença dentro de suas próprias culturas.
Rita, então, enfatiza que é assim que a antropologia inaugura a etnografia. O antropólogo vai a campo, sai de seu gabinete.
Margarete retoma a sua fala sobre a importância de sabermos do que estamos falando, a partir de que referenciais. Sônia aproveita para referir-se à necessidade do grupo de construir consistência sobre o que significa etnopsicologia. Por que chamamos o grupo de Aproximações?
Ana Maria sugere que o grupo, com fins de uma maior sistematização dos estudos, tenha um responsável por semana para desenvolver, em linhas gerais, as idéias principais de um ‘texto-base’, ainda que outras leituras paralelas possam ser feitas, enriquecendo a discussão. O propósito seria exatamente ganhar consistência em nossas discussões em torno da etnopsicologia e organizar o material explorado pelo grupo.
Sônia colocou-se aberta à proposta, mas depois de alguma discussão, o grupo pareceu preferir uma discussão mais aberta, sem um responsável, necessariamente. Resolvemos pensar mais sobre isso durante a semana e combinamos continuar a discussão do mesmo texto (Spink) na próxima segunda. Finalizamos assim a reunião deste dia!
quinta-feira, 27 de março de 2008
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